sexta-feira, 21 de março de 2008

Posição geográfica coloca Curitiba na rota do tráfico internacional

A posição geográfica do estado do Paraná colocou a cidade de Curitiba - reconhecida como capital ecológica - na rota internacional do tráfico de drogas. Em menos de uma semana a capital paranaense foi alvo de três ações policiais que resultaram em prisões de mais de 10 traficantes e apreensão de grande quantidade de droga - principalmente sintética (LSD e ecstasy).
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A proximidade com o Paraguai e a Argentina e a divisa com as regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste deixam o Paraná vulnerável às ações criminosas dos traficantes de drogas. As polícias Federal e Civil têm intensificado o combate ao tráfico, mas o obstáculo está justamente no fácil acesso pelas fronteiras e divisas. E mais recentemente por via aérea.
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Essa é a avaliação dos delegados que coordenaram as recentes operações na cidade e que foram ouvidos pela reportagem. O delegado federal Wágner Mesquita de Oliveira, responsável pela Coordenação de Operações Especiais de Fronteira (Coesf), acredita que além da posição geográfica a tendência é um aumento no consumo das drogas sintéticas - não só em Curitiba. "Curitiba é uma das cidades que tem se mostrado um forte mercado consumidor desse tipo de drogas. As facilidades são inúmeras: alta rentabilidade, o processo fácil destas drogas (até num banheiro) e o fácil transporte", explica Mesquita, que comandou no fim de semana a Operação Alpes - que desarticulou uma rede de internacional de tráfico de drogas chefiada por um paranaense.
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O delegado Cassiano Alfiero, do Núcleo de Repressão ao Tráfico de Drogas, é mais específico: "Claro que a questão geográfica influi, e o consumo no Paraná é cada vez maior, mas as constantes festas de música eletrônica realizadas no estado contribuem para a venda da droga - principalmente ecstasy e LSD". Os locais de venda não se restringem somente as raves. "Já localizamos como pontos de venda bares e casas noturnas, lugares freqüentados por jovens de classe média e alta, que são os maiores consumidores das drogas sintéticas", afirma Alfiero, que coordenou a ação "Conexão Barcelona", na qual foram presas seis traficantes que moravam em bairros nobres da capital.
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Logística da droga
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O delegado da PF e hoje secretário Antidrogas de Curitiba, Fernando Francischini, um dos responsáveis pela prisão do megatraficante colombiano Juan Carlos Ramirez Abadía, justifica a inclusão de Curitiba no cenário do tráfico internacional de drogas por causa da estrutura da cidade. "Temos um Aeroporto Internacional (Afonso Pena), a proximidade com três dos principais portos do país (Santos, Paranaguá e Itajaí), grandes rodovias que cortam o Brasil que dão acesso aos países de fronteira (Paraguai, Bolívia) e no interior do Paraná temos cravejados aeroportos clandestinos", descreve. A tendência do uso de drogas sintéticas, dita por Mesquita, é compartilhada pelo secretário. "Curitiba é uma cidade rica. Essa droga é consumida pela classe média e alta", completa.
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O Chefe do Departamento de Repressão a Entorpecentes da PF do Paraná, delegado federal Jonathan Trevisan Júnior, acompanhou de perto a ação da PF que resultou na segunda maior apreensão de LSD no Brasil. Ele "desenha", em linhas gerais, o mapa da entrada da droga no Paraná. "O LDS e o ecstasy vem de fora, da Europa. São drogas sintéticas que, até onde a PF sabe, não são fabricadas no Brasil", explica. Já a maconha e a cocaína costumam entrar no Paraná principalmente pela fronteira do Paraguai, pelas divisas com as regiões Sul e Centro-Oeste. "Na região Norte do Paraná e em Mato Grosso há fazendas onde um avião de pequeno porte pode pousar carregado de droga", exemplifica Mesquita.
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"A maconha do Paraguai não é de boa qualidade. A boa vem da fronteira com a Bolívia, dos Andes e do Vale do São Franciso, no Norte do país - conhecido como polígono da maconha", conta Trevisan, citando que a partir daí o transporte é feito via terrestre até Curitiba.
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Os três delegados convergem quando descrevem o perfil dos traficantes que agem no Paraná e no exterior. "Os grandes chefões costumam ficar na Europa, onde a droga é produzida", afirma Mesquita. "E é para prender eles que a PF está trabalhando", completa. Os contatos no Brasil, então, vão até o velho continente para adquirir a droga. "Eles compram em dinheiro ou, em algumas vezes, trocam a droga sintética por maconha e cocaína", diz Alfiero. Francisquini, no entanto, relembra a vida levada por Abadía. "Ele tinha residências em diversas capitais. Inclusive em Curitiba".
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Combate ao tráfico
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Nas três operações deflagradas em Curitiba, a polícia acredita ter desfalcado - tanto em pessoal quanto na questão de drogas - as quadrilhas que atuavam no estado. Para o delegado Alfiero, o comércio de drogas sintéticas é um comércio fechado na capital paranaense. "Acredito ser poucas as organizações especializadas no tráfico internacional de drogas. Para se ter uma idéia, em 2007 a Divisão de Narcóticos (Dinarc) prendeu seis traficantes de LSD e ecstasy. Antes da ação, o LSD era vendido por até R$ 25. Depois da ação, com a apreensão da droga, o preço foi para até R$ 60", diz.
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Tanto a Polícia Federal quanto a Polícia Civil do Paraná garantem estar de olho nesta mais nova modalidade do crime praticada no Paraná. "As fiscalizações, claro, vão ser intensificadas. Mas o foco da PF são os grandes chefões. Você prende o usuário e no dia seguinte ele é 'substituído', o que não acontece na outra ponta da cadeia", conclui Mesquita.

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