quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Qual será o novo "caça" da FAB ?

Finalistas do projeto F-X2 devem receber pedido de propostas até o fim de outubro

O Comando da Aeronáutica deve enviar os pedidos de propostas para as empresas pré-selecionadas do projeto F-X2, para a compra de aviões caça para a Força Aérea Brasileira, até o final deste mês. A definição dos finalistas - um projeto francês, um norte-americano e um sueco - ocorreu na quarta-feira. O pedido será encaminhado depois de reuniões a serem realizadas com os representantes das três empresas finalistas.

Disputam o fornecimento dos caças para a FAB a norte-americana Boeing, com o modelo F-18E/F Super Hornet, a francesa Dassault, com o caça Rafale, e a sueca Saab, com o Gripen NG.

Após receberem o pedido do governo brasileiro, as empresas terão em torno de 90 dias para enviarem suas propostas. Mas este prazo é variável e a definição do vencedor da concorrência deve ficar para o final do ano que vem, como previsto por uma das envolvidas na disputa, a Boeing.

A empresa divulgou nota sobre sua pré-seleção. No texto, o vice-presidente dos programas F-18, Bob Gower, diz que o Super Hornet "está apto a atender aos requerimentos operacionais da Força Aérea Brasileira". Ele destaca ainda a "avançada postura do governo dos EUA em relação à transferência de tecnologia".

A sueca Saab também divulgou nota sobre a pré-seleção, lembrando que conta com o apoio do governo da Suécia para participar da concorrência. "Estamos prontos para enviar uma proposta muito atrativa", diz o vice-presidente executivo da empresa, Lennart Sindahl. O texto também destaca a disponibilidade para cooperar com a indústria brasileira, transferindo conhecimento e tecnologias.

A transferência de tecnologia é um dos requisitos analisados pela comissão gerencial do projeto F-X2, assim como a compensação comercial, que consiste em incluir no acordo de compra benefícios tecnológicos para a indústria nacional e para a comunidade científica e de pesquisa e desenvolvimento.

Na primeira etapa do processo de seleção, a comissão gerencial, instituída em maio deste ano, enviou pedido de informações a seis empresas. Ficaram de fora o norte-americano Lockheed Martin F-16 Adv, o Sukhoi SU-35, da russa Rosoboronexport, e o Typhoon, do consórcio europeu Eurofighter.

A comissão diz que os dados "foram avaliados de forma sistêmica" e ressalta que "não há nenhuma vantagem" entre as empresas que participam da concorrência. Nem mesmo para a Dassault, fabricante dos caças Mirage de que o Brasil dispõe atualmente, e que tem a brasileira Embraer como uma das 'sociedades não-consolidadas' em sua estrutura.

Reportagem da Folha de S.Paulo (ao lado, a íntegra, para assinantes) desta quinta-feira diz que os russos foram eliminados devido ao receio do governo brasileiro em relação à reação norte-americana, uma vez que a presença militar russa aumentou na América do Sul, com o estreitamento das relações entre Moscou e Caracas.

No final da tarde, o Ministério da Defesa divulgou nota reafirmando que "a decisão tomada pelo Alto-Comando da Aeronáutica foi fundamentada em critérios técnicos exaustivamente analisados e elaborados pela Comissão Gerencial do Projeto F-X2, tendo por base a transferência de tecnologia".

As 36 aeronaves compõem apenas um primeiro lote, que deve ser entregue a partir de 2014, para substituir os atuais Mirage 2000, F-5M e A-1M. O cronograma da nova tentativa de renovação da frota de aeronaves, contudo, vem se arrastando há anos.

Os requisitos operacionais do projeto F-X foram definidos ainda em 1992. No final da década de 90, os planos foram adiados por conta da crise asiática. Nos anos 2000, o programa foi suspenso e retomado algumas vezes, com expectativa de definição da empresa vencedora em 2002 e depois, em 2004. A nova aposta é 2009.

Para atender a 'necessidades imediatas' o governo providenciou a compra, em 2006, de 12 caças Mirage 2000 usados. Os dois últimos foram no final agosto, na Base Aérea de Anápolis (GO).

Fonte: UOL Notícias

Medo dos EUA tira russos de lista da FAB

Pesou na escolha dos finalistas para o fornecimento de caças ao Brasil a crescente presença militar russa na Venezuela

O modelo francês Dassault Rafale é o favorito para vencer a disputa; chances do americano F-18 e do sueco Gripen NG são pequenas

Uma calculada manobra política, influenciada por pressões sutis vindas de Washington, definiu os finalistas da disputa pelo fornecimento dos novos caças da Força Aérea Brasileira. Para surpresa dos meios militares, a Rússia ficou de fora e os Estados Unidos, dentro.

O favorito é o francês Dassault Rafale, e a escolha deverá ser feita no começo de 2009.

Pesou na escolha do governo, adiantada ontem pelo "Painel" da Folha, a crescente presença militar russa na região, por cortesia do antiamericanismo radical do governo Hugo Chávez na Venezuela e das restrições de Washington para fornecer material bélico para Caracas.

Além de já ter vendido cerca de US$ 4 bilhões em armas, incluindo jatos semelhantes aos que oferecia ao Brasil, Moscou tem estreitado sua relação com Chávez, realizando manobras navais no Caribe, enviando bombardeiros estratégicos para treinamento e prometendo parcerias na área nuclear.

Como já negocia a compra de helicópteros de ataque russos, ainda que com dificuldades devido a interesses divergentes, a FAB estimou que estaria se alinhando ao "eixo bolivariano" se também se equipasse com caças Sukhoi -a despeito do fato de o avião ser geralmente considerado superior por analistas ao Rafale, ao sueco Gripen NG e ao americano F-18, os finalistas da disputa.

Sinalização

Além disso, diplomatas americanos fizeram chegar ao governo, por meio de contatos com adidos militares, sinalizações de que Washington não reagiria bem a uma eventual escolha russa.

A pressão naturalmente é velada, incluindo no rol de retaliações hipotéticas limitações de fornecimento tecnológico a empresas brasileiras como a Embraer, mas a mensagem central foi a de que a opção francesa não seria malvista -para bom entendedor, o recado foi dado. De todo modo, a inclusão da Boeing (com o F-18) na disputa final significa uma deferência aos EUA. Isso porque as chances americanas são, se for o caso de acreditar no discurso do governo, quase nulas devido à tradicional restrição americana a transferências de tecnologia militar.

Isso dificulta as coisas também para o Gripen, um avião pequeno que foi reformulado para ter maior autonomia de combate, pois boa parte de seus componentes é americana.

Assim, as apostas ficam com o Rafale, um caça cujo desempenho no Afeganistão vem sendo elogiado, mas que sofre críticas no mercado pelo alto custo unitário (algo como 70 milhões de euros) e de manutenção. Mas é produto francês, que geralmente usa fornecedores não-americanos, e o ministro Nelson Jobim (Defesa) já decretou a França como a parceira estratégica do Brasil em seu ainda encalacrado Plano Nacional de Defesa.

Com tudo isso, parece estar perto do fim a novela da compra dos caças de emprego múltiplo pela FAB, que começou no governo FHC. O negócio prevê a compra inicial de 36 aviões, a custos iniciais especulados em US$ 2 bilhões a serem financiados, mas que na verdade podem ser bem maiores já que a idéia é substituir toda a frota de Mirage-2000, AMX e F-5 ao longo dos anos -são cerca de 120 aeronaves.

A nota da FAB de ontem ainda lembra que deverá haver compensações industriais e capacitação tecnológica do Brasil para a produção de novas gerações de caças, exigência que vem desde a primeira concorrência, cancelada em 2003.

Como isso se dará é uma incógnita, mas é certo que a beneficiária será a Embraer, que é parceira histórica da FAB e a única empresa brasileira capaz de absorver tal processo.

Fonte: Folha de São Paulo