domingo, 20 de abril de 2008

Após cobrar general, Lula promete defender reserva indígena no STF

Militar teve de se explicar a seu superior, Enzo Peri, e a Nelson Jobim; recomendação é para não insistir em críticas
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Dois dias depois de irritar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a crítica de que a política indigenista do governo é "caótica e lamentável", o comandante militar da Amazônia, General Augusto Heleno, foi obrigado a dar explicações ao ministro da Defesa, Nelson Jobim, e ao comandante do Exército, Enzo Peri. Depois de reunião de pouco mais de uma hora no ministério, na noite de ontem, Jobim considerou a crise encerrada. Heleno ouviu a recomendação de silenciar e não insistir nas críticas ao formato da reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, mas não precisou fazer nenhum tipo de retratação.

O silêncio imposto ao general ganhou, porém, caráter de censura pública porque contrastou com as declarações de Lula em favor da reserva. O presidente, que havia determinado a reprimenda a Heleno, reiterou a defesa da demarcação contínua da reserva, alvo de longa disputa judicial no Supremo Tribunal Federal (STF).

Em solenidade no fim da manhã de ontem, quando recebeu o Conselho Nacional de Política Indigenista, Lula deu um recado aos militares e reforçou, de público, o apoio à política da demarcação das terras dos índios. O presidente prometeu ao líderes indígenas que o governo vai defender no Supremo a manutenção da Serra do Sol tal como está.

Lula lembrou que, agora, a decisão está com a Justiça. Mas pediu ao presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Márcio Meira, que acompanhe um grupo de líderes indígenas em conversas com os ministros do STF, para explicar sua posição. "Senti firmeza do presidente. Estamos confiantes de que vai manter a homologação", afirmou o cacique macuxi Jaci José de Souza. Os indígenas foram recebidos no Palácio do Planalto por Lula como parte das ações pelo Dia do Índio, comemorado hoje.

"Nós não somos uma ameaça à soberania nacional. Temos índios que servem ao Exército. Nós lamentamos essa situação porque joga a sociedade brasileira contra os indígenas", reclamou o cacique Marcos Xucuru, membro do Conselho Nacional de Política Indigenista.

ESTADO BRASILEIRO

O presidente Lula ficou particularmente incomodado com o fato do general ter dito que não serve ao governo, mas ao Estado brasileiro.

Terminada a reunião na Defesa, pouco antes das 21 horas, Jobim ligou para Lula, que estava em Porto Alegre, e fez um relato da reunião, reiterando que o problema estava resolvido.

"As explicações foram prestadas e a questão está superada", afirmou o ministro depois da reunião, segundo a Assessoria de Imprensa do Ministério da Defesa.

Na conversa, o general Heleno reafirmou que tornou pública uma opinião pessoal que não interfere em sua atuação no Comando Militar da Amazônia.
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Fonte: Estado de S. Paulo

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